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Zika Vírus e a Microcefalia

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Na semana passada, o Ministério da Saúde confirmou a relação entre o zika vírus e os casos de microcefalia na região Nordeste, após a identificação do micro-organismo em amostras de sangue e de tecidos dos bebês que apresentavam microcefalia e outras malformações congênitas.
O assunto repercutiu em todo o País e colocou todas as gestantes em estado de alerta.
Em entrevista para o programa “Bom Dia Gazeta”, o estudante Bruno Capozzi conversou com a neurologista Dra. Marcela Avelino sobre a correlação da microcefalia com o vírus, os sintomas do zika vírus e as formas de tratamento aos bebês que nasceram com esta condição neurológica rara.
Fonte: Gazeta AM

 

 

 

JOÃO: Recentemente os noticiários tem divulgado a possível relação entre o surto de microcefalia em crianças com o Zika vírus, o vírus que chegou ao Brasil recentemente e é transmitido pelo mesmo mosquito transmissor da dengue. Para explicar esse assunto tão delicado e novo, vamos conversar agora com Marcela Avelina, ela que é neurologista da AMATO Instituto de Medicina Avançado. Marcela, seja muito bem vinda ao nosso programa.

MARCELA AVELINA: Obrigada, bom dia.

JOÃO: Bom Marcela, primeiro então, teve esse surto de microcefalia, mas explica para nossos ouvintes então, afinal o que é microcefalia?

MARCELA AVELINA: Bem, microcefalia é um sintoma neurológico que se caracteriza por um crânio pequeno, então os médicos é quando o crânio ele tem uma dimensão menor que 32 centímetros, para fins práticos o Ministério da Saúde tem considerado um crânio menor que 33 centímetro atualmente para a gente abranger um número maior de crianças para que a gente possa investigar atualmente o que tem acontecido com essas crianças, para aumentar a sensibilidade e abranger o maior número para que a gente possa considerar o maior número de crianças e investigar melhor o que tem acontecido, mas para envolver essas crianças e investigar a causa dessas crianças com cérebro pequeno e crânio pequeno.

JOÃO: Tem cura para isso? Como que funciona?

MARCELA AVELINA: Na verdade cura não, porque isso envolve uma má formação cerebral, ou seja, já aconteceu o processo de desenvolvimento cerebral, então a gente não tem como reverter o que aconteceu, mas ter reabilitação, essas crianças elas podem ser trabalhadas e incentivadas para que o potencial desse desenvolvimento ele seja aproveitado na melhor maneira possível e essas crianças desenvolvam o seu potencial e cresçam com o melhor que elas podem ganhar.

JOÃO: Nos noticiários a gente tem visto muito uma possível relação desse surto de microcefalia em alguns estados do Brasil com o Zika vírus, o vírus transmitido também aí pelo mesmo mosquito que transmite a dengue, o Aedes aegypti. Como que se dá essa transmissão? Tem realmente uma relação entre o Zika vírus e a microcefalia? E se tem, como funciona?

MARCELA AVELINA: Atualmente a gente não tem como comprovar exatamente uma relação causal, isso é uma possibilidade diante de tudo o que está acontecendo, é a melhor possibilidade que a gente tem, porque o que a gente tem em mãos atualmente é que essas crianças elas tem uma má formação cerebral, elas tem uma microcefalia e tem uma mal formação do próprio desenvolvimento cerebral, com calcificações cerebrais, com anormalidades do córtex cerebral, hidrocefalia, que são bem comuns em infecções que são ditas congênitas, que a criança nasce com a infecção, isso é comum em outras infecções que a gente já conhece, como as infecções por rubéola, toxoplasmose. Só que durante a investigação dessas crianças a gente vê que essas infecções foram negativas, então o mais próximo que a gente tem visto é que essas gestantes durante a gravidez, tiveram infecções com rash, com vermelhidão, que a gente acredita que tenha sido o próprio Zika vírus, então a gente tem, digamos, dados que façam a gente acreditar que a causa mais provável dessa microcefalia dessas crianças, essa microcefalia congênita é o próprio Zika vírus, mas para confirmar como etiológica causal, os nossos dados ainda são insuficientes, porque é uma doença nova, é uma patologia nova que a gente ainda está investigando, é o mais provável. Dessa forma a gente tem que trabalhar com dados que a gente tem em mãos e proteger essas crianças que estão nascendo com os dados que a gente tem em mão. Como etiologia mais provável, a gente acaba atribuindo o mais provável ao próprio Zika vírus. Diante disso, o Zika vírus, como transmitido por um mosquito, que é o mesmo do Aedes aegypti, é o mesmo mosquito da própria dengue que é o Aedes aegypti, é transmitido através da picada do mosquito durante o respato, durante a alimentação que é feita durante o dia a picado do mosquito, então a gente sempre para a gestante durante o dia se protegeram durante o dia, usarem repelente, usaram roupa de manga comprida, evitarem se expor durante o dia em áreas que sejam com muito mosquito, em áreas que sejam próximas a ambiente muito arborizados, em áreas de epidemiologia de dengue, onde estejam acontecendo muitos casos de Zika vírus, áreas que estejam acontecendo muitos casos de chikungunya, são as mesmas áreas que acontecem, geralmente as áreas de dengue, áreas de Zika vírus, de chikunganya, geralmente são as mesmas, porque são os mesmos mosquitos que transmitem os três vírus.

JOÃO: Você comentou que é uma doença nova, uma patologia nova que não se sabe muito a respeito, ao contrário da dengue, da febre amarela, que são mais antigas, o Zika vírus é totalmente novo e a gente não tem muito conhecimento sobre ele. Então, por exemplo, se uma gestante começa a sentir os sintomas do Zika vírus, ela estando grávida, ainda não se sabe exatamente o que tem que fazer para evitar a microcefalia no bebê, porque é uma doença nova?

MARCELA AVELINA: Exato. É uma doença que chegou ao Brasil por volta de março desse não, então o Zika vírus, por exemplo, ela existia na África, ela existia em alguns países da Ásia, é uma doença que a gente sabe caracterizar os sintomas semelhantes a dengue, o próprio Zika vírus em si ele produz sintomas até bem mais brando do que dengue, ele dá uma vermelhidão no corpo, sintoma semelhante a uma conjuntivite, uma dor nas articulações, inchaço nas pernas, dor de cabeças, ás vezes uma diarreia, são sintomas bem mais brandos, mas ninguém associou, por exemplo, o Zika vírus a doenças como microcefalia em filhos de gestantes que tiveram no mundo inteiro, então é uma coisa que é totalmente desconhecida no mundo. Então a gente está estudando tudo isso, é uma coisa muito nova, isso não aconteceu em nenhum país no mundo, então você atribuir isso como um fator causal é algo muito novo, então tudo isso é novo, não só no Brasil como no mundo inteiro, tudo indica que isso pode estar relacionado, mas a gente precisa estudar isso com muita calma, com muita parcimônia, com muito cuidado, não se pode atribuir isso sem muito cuidado, a gente precisa estudar, mas precisa estar preparado para o que vem acontecer.

JOÃO: Terá provavelmente um bom tempo de pesquisa a ser feito, é um assunto muito delicado, muito novo, como você mesmo disse e precisa de toda atenção. Com relação então ao tratamento, você disse que não tem cura para a microcefalia, o que dá para fazer é desenvolver a capacidade cognitiva das crianças que nascem com essa doença, mas o tratamento, de que forma esse desenvolvimento intelectual pode ser feito com as crianças que tem a microcefalia?

MARCELA AVELINA: Essas crianças com microcefalia elas precisam de reabilitação, a reabilitação ela consiste tanto na fisioterapia motora que consiste na parte de estimular essas crianças na marcha, no estímulo da força, consiste também fonoterapia, essas crianças também podem ter dificuldade para a fala, a parte de terapia ocupacional, estímulo pedagógico, isso mais para a frente, então tudo isso precisa de tempo, não dá para prever qual a dificuldade que essas crianças terão, cada criança ela pode ter uma dificuldade diferente de outra, algumas podem ser menos ou mais comprometidas, assumir que uma criança vai ter um excelente prognóstico ou um prognóstico ruim, é arriscar-se bastante, porque o comprometimento diferencia de uma criança para outra assim como o tamanho da microcefalia. A gente consegue prever que as microcefalias são tamanho de crânio e cérebro abaixo de 33 centímetros, de perímetro cefálico abaixo de 33 centímetros, mas o grau de comprometimento cerebral é bastante variável, então isso é muito dependente, é impossível fazer uma previsão de grau de comprometimento, o importante é estímulo, estimular essa criança desde o nascimento, quando mais estímulos essas crianças tiverem, maior é o grau de recuperação e maior o grau de desenvolvimento que essas crianças podem atingir conforme o potencial que elas tem.

JOÃO: Perfeitamente. Marcela Avelina, infelizmente estamos chegando ao final da nossa entrevista, o nosso tempo é curto, mas então eu deixo aí um espaço para que você comente algo que não tenha sido perguntado ou então deixa um recado aí de precação para as gestantes que estão nos ouvindo.

MARCELA AVELINA: É importante dizer para todas as gestantes que assim, essa situação que está acontecendo deve deixar claro que a gente precisa ter um cuidado, que durante esse período de gestação elas devem se proteger, devem usar repelente, devem usar roupas de mangas cumpridas, calças, porque vai chegar um período de uma transmissibilidade, mas que a população também deve tomar consciência que o cuidado deve ser de todo mundo, que acabar com a transmissibilidade do mosquito não só por causa dessa epidemia de Zika vírus, de dengue, isso tudo vale para o ano inteiro, não vale só para esse período de microcefalia, é uma doença que depende de todos nós, depende do cuidado que todos nós temos nas casas da gente, nas casas de todos, porque o mosquito ele depende da gente acabar com o fômite, com os focos de transmissão e que isso também pode ser acabado, e que depende também dos profissionais de saúde para notificaram os casos, para que isso possa ser estudado com mais detalhes para que  a gente possa logo conseguir entender melhor o que está acontecendo, informar melhor a população para que a gente possa chegar logo a melhores conclusões e passar mais informações para que todo mundo ajude a resolver mais e melhor o que está acontecendo no Brasil

JOÃO: Muito bem. Provavelmente terá um bom tempo de pesquisa, porque é um assunto muito importante, já que é uma coisa nova essa possibilidade do Zika vírus estar causando microcefalia, que é uma coisa muito séria, é bastante preocupante, né?

MARCELA AVELINA: Sim, claro, mas eu me deixo aqui a disposição para qualquer dúvida, qualquer esclarecimento maior e quem quiser precisar entrar em contato a gente se coloca sempre a disposição.

JOÃO: Muito obrigado Marcela Avelina, neurologista da AMATO Instituto de Medicina Avançada pelos seus esclarecimentos, é muito bom saber essas coisas, um assunto tão delicado, tão importante e tão novo na nossa rotina, então mais uma vez muito obrigado pela sua participação e pela sua disponibilidade Marcela.

MARCELA AVELINA: Foi um prazer, obrigada.

JOÃO: Nós que agradecemos.

 

 

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