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Crianças com tumores cerebrais

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Dentre os diversos tipos de câncer na infância, os tumores cerebrais perdem somente para as leucemias, e causam grande consternação à família e um imensurável impacto social quando muito agressivos ou não bem avaliados e tratados a tempo.

 

O que saber de antemão?

 

Cerca de 7% de todos os tumores cerebrais relatados nos Estados Unidos entre 2006 a 2010 ocorreram em jovens de 0 a 19 anos. Sua incidência está em cerca de 5,2 a cada 100000 pessoas de 0 a 14 anos(1).

Os tipos de tumores mais comuns variam com as faixas etárias, assim como sua localização no sistema nervoso(2)(3):

 

São tumores infratentoriais mais comuns, dentre outros:

  1. 1.Astrocitomas cerebelares
  2. 2.Meduloblastomas
  3. 3.Ependimomas
  4. 4.Gliomas de tronco cerebral
  5. 5.Tumores teratóides/rabdóides atípicos
  6. 6.Tumores do plexo coroide

São tumores supratentoriais mais comuns, dentre outros:

  1. 1.Astrocitomas de baixo e alto graus
  2. 2.Gliomas mistos
  3. 3.Oligodendrogliomas
  4. 4.Tumores neuroectodérmicos primitivos
  5. 5.Tumores teratóides/rabdóides atípicos
  6. 6.Ependimomas
  7. 7.Meningiomas
  8. 8.Tumores do plexo coroide
  9. 9.Tumores da região da pineal
  10. 10.Tumores gliais mistos e neuronais

Há ainda os tumores parasselares como:

  1. 1.Craniofaringiomas
  2. 2.Astrocitomas diencefálicos
  3. 3.Tumores de células germinativas

 

Como sei se meu filho tem um tumor cerebral?

 

Alguns sinais clínicos são fáceis de identificar, mas fazem confusão com diversas outras doenças mais frequentes na infância. Os mais comuns são dores de cabeça e vômitos, muitas vezes decorrentes do aumento da pressão intracraniana. Até 40% das crianças com tumores cerebrais podem apresentar hidrocefalia, o que rapidamente pode evoluir para letargia, sonolência excessiva e coma(2). Outros sintomas como crises epilépticas, paralisias em alguma parte do corpo, alterações de fala eventualmente podem aparecer.

Nos primeiros 2 anos de vida, os ossos do crânio ainda não estão unidos. A presença de uma lesão expansiva faz com que haja um aumento do volume da cabeça da criança, podendo estar associado a irritabilidade einquietação do bebê(4).

Sinais mais sutis como alterações na curva de ganho de peso e altura, sede excessiva e grande volume e frequência urinária, sinais de puberdade precoce, devem servir de alerta para pediatras que acompanham seus pacientes. Investigações endocrinológicas eventualmente evidenciam tumores cerebrais como sendo a causa desses transtornos de desenvolvimento.

 

E tem algum exame para ser feito?

 

Existindo a suspeita de tumor cerebral, o neurocirurgião ou o neurologista podem determinar o melhor exame para a criança. Exames de imagem como a Tomografia Computadorizada estão presentes em vários hospitais, são rápidas e trazem boas imagens. No entanto, a criança recebe grande dose de radiação e o uso de contraste iodado pode provocar reações alérgicas e problemas renais. É um bom exame para rastreamento, mas não está indicado para acompanhamento.

A Ressonância Nuclear Magnética é o exame de escolha para a identificação da lesão e seu planejamento cirúrgico. Variações na aquisição da imagem permitem ao neurocirurgião definir a melhor via de acesso e o melhor ponto a se fazer uma biópsia, por exemplo. A depender do padrão da imagem, pode-se complementar com a extensão para a medula espinal e/ou coleta de marcadores sanguíneos que corroborariam para a elucidação diagnóstica.

 

É preciso cirurgia? Vai fazer quimio e radioterapia?

 

De uma forma geral, a cirurgia se faz necessária ao menos para o diagnóstico histológico da lesão, isto é, pelo menos uma biópsia se faz necessária. Para uma grande parte dos tumores, sua retirada completa pode significar a cura da doença.

Em algumas situações em que a localização da lesão está numa área muito nobre do cérebro, a retirada completa pode trazer sequelas irreparáveis e incapacitantes, sendo prudente a retirada parcial. Nos casos em que se identifica hidrocefalia, sua resolução deve ser feita rapidamente. A endoscopia pode ser uma boa ferramenta para o tratamento e para biópsia quando possível.

O tratamento complementar com quimioterapia e/ou radioterapia deve ser definido de acordo com o tipo da lesão e em comum acordo com o oncologista pediátrico.

 

Resumindo

 

Para as crianças e jovens com tumores cerebrais, algumas considerações se fazem importantes para seu tratamento:

  1. a.não se conhece ainda a causa de vários desses tumores
  2. b.o tratamento adequado só é possível uma vez que se saiba exatamente o tipo de tumor existente e o estágio em que a doença se encontra (inicial vesus terminal)
  3. c.equipe multidisciplinar contendo neurocirurgiões capacitados, neurologistas/neuropediatras, oncologistas, radiologistas, endocrinologistas, psicólogos e fisioterapeutas, importantes desde o primeiro contato com o diagnóstico até o término do complexo manejo a longo prazo desses pacientes
  4. d.a sobrevida está acima de 70% após 5 anos do diagnóstico, a depender essencialmente do tipo de tumor e de seu estágio inicial. Entre 1975 e 2010, a mortalidade por câncer na infância caiu mais de 50%, graças a inúmeras pesquisas e avanços quimioterápicos(5).

 

 

Bibliografia:

1.  Ostrom QT, Gittleman H, Farah P, Ondracek A, Chen Y, Wolinsky Y, et al. CBTRUS statistical report: Primary brain and central nervous system tumors diagnosed in the United States in 2006-2010. Neuro Oncol. 2013 Nov 1;15(SUPPL.2):ii1-ii56.

2.  Reynolds R, Grant GA. General Approaches and Considerations for Pediatric Brain Tumors. In: Winn HR, editor. Youmans Neurological Surgery. 6th ed. Philadelphia: Elservier; 2011. p. 2040–6.

3.  Louis DN, Ohgaki H, Wiestler OD, Cavenee WK, Burger PC, Jouvet A, et al. The 2007 WHO Classification of Tumours of the Central Nervous System. Acta Neuropathol [Internet]. 2007 Jul 12;114(2):97–109. Available from: https://link.springer.com/10.1007/s00401-007-0243-4(link is external)

4.  Souweidane MM. Brain Tumors in the First Two Years of Life. In: Albright AL, Pollack IF, Adelson PD, editors. Principles and Practice of Pediatric Neurosurgery. 2nd ed. New York: Thieme; 2008. p. 489–510.

5.  Smith MA, Altekruse SF, Adamson PC, Reaman GH, Seibel NL. Declining childhood and adolescent cancer mortality. Cancer [Internet]. 2014 Aug 15;120(16):2497–506. Available from:https://doi.wiley.com/10.1002/cncr.28748

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