Entrevista sobre ginecomastia com o Dr Fernando Amato no programa Freud Explica. Ginecomastia é o crescimento de mamas de tamanho fora do normal em homens.
Transcrição
Taty: Boa tarde, que bom ter você aqui novamente comigo, a gente está começando mais um (Freud Explica), ao vivo, na (TV Geração Z). Hoje, homens e mulheres atentos, porque a gente vai falar de saúde feminina e masculina. Eu falei para vocês que eu estou adotando a família (Amato), hoje eu tenho mais um representante, que é o doutor (Fernando Campos Moraes Amato). Doutor (Fernando), muito obrigada pela presença.
Fernando: Imagina, é um prazer.
Taty: Um tema muito bacana, essa questão masculina que a gente vai abordar agora, que é a ginecomastia, que é muito pouco falado, achei muito interessante essa pauta.
Fernando: A ginecomastia é um termo usado para mamas de mulher. Mas o formato de mama em homens, que traz uma aparência mais feminina, é extremamente frequente, tem 3 picos de incidência. Quando a criança nasce, tem um pouquinho de hormônio materno, isso pode até ter um aumento da mama, mas isso logo regride. Tem um pico importante na adolescência, que é entre 13,14, 15 anos…
Taty: Que é bem complicado, a gente estava até comentando um pouco antes de entrar ao vivo, a questão do (bullying) [00:02:03] nessa faixa etária, porque poxa, você está querendo curtir, você está na adolescência…
Fernando: Então, e as crianças elas são adolescentes, são crianças, não sabem, porque começaram à ter o estímulo hormonal naquela fase, ter um certo descontrole, eles podem ter esse aumento da mama. Tem trabalhos que falam que é em torno de até mais de 50% dos adolescentes, mas eu acredito que seja mais, em torno de 10% possam ter ginecomastia, mas muitos regridem. Então desses que tem, em torno de 5 a 10 % continuam com ginecomastia. Só que o problema é que essas crianças estão em uma fase que elas estão se descobrindo, elas já não querem falar com os pais, elas tem vergonha de tirar a camisa, e a mama está lá, é um problema. É evidente que eles não tiram a camisa para jogar futebol, não tiram a camisa no vestiário…
Taty: É uma fase que a criançada é realmente complicada, e vai fazer alguma piadinha…
Fernando: E piada, tem.
Taty: Vai acabar acontecendo.
Fernando: ”Tetinha”…
Taty: O lado emocional é complicado.
Fernando: E isso vai influenciando a formação dele no futuro. Como ele vai relacionar com as pessoas, a convivência, eu acho bem importante. E tem tratamento, isso que é importante.
Taty: Isso que é bom. Quais são as causas?
Fernando: Bom, a mama é um tecido glandular, tem uma influência de hormônios. Então a diminuição de hormônio masculino, aumento de hormônio feminino, que também é presente no homem, e o aumento de receptores são as causas que estão envolvidas. Mas o que faz isso? Quando o menino está começando à ter hormônio, desregula um pouquinho, e acaba tendo mais hormônio masculino, ou mais hormônio feminino. A obesidade, eu acredito que seja uma das principais causas de ginecomastia, que existe uma coisa de obesidade infantil. Então na obesidade, tem um aumento de uma enzima chamada aromatase, essa aromatase converte androgênio e estrogênios, ou seja, hormônio masculino e hormônio feminino, ou seja, vai ter mais hormônio feminino e menos masculino, e isso pode ser uma das causas. Além disso, temos um monte de medicações que podem causar, inclusive hormônios, que se usa descontroladamente inclusive em academias, anabolizantes, não sabe quem prescreve, tem gente que usa até hormônio de animal, de cavalo.
Taty: E vira um vício mesmo.
Fernando: Procurar uma boa forma, para ficar forte, e acaba ficando com uma outra sequela, que é o aumento da mama. Além disso, uso de álcool, bebida alcoólica, uso de maconha… Tudo isso a criança também está tendo acesso nesse momento. Eu acho que essa faixa etária de adolescente tem que ser bem abordada nisso, porque se tiver alguma coisa, tem que procurar um médico, e ele tentar conversar com a criança e entender a principal causa é idiopática ainda, ou seja, não tem causa definida. Então tem que se estudar.
Taty: E o legal é que tem cura.
Fernando: Tem cura. Como eu falei, a maioria, mais de 90% vai regredir. Então tem um aumento, e regride. Regride em 1 a 2 anos, pode ser preciso usar algum medicamento, tem medicamentos para isso. Mas se persistir por mais de 2 anos, é melhor fazer um tratamento cirúrgico e tirar aquela glândula, aquele excesso de glândula ou até mesmo a gordura associada.
Taty: Vamos ver aqui, doutor. Aqui chegou, da (Isabela), ela diz o seguinte ”Meu marido tem as mamas salientes. Nunca sentiu dor física, mas sofre desde sempre com o emocional. É uma dificuldade ir à praia, ele não tira a camiseta, e até a nossa questão sexual é afetada. Doutor (Fernando Campos), muito obrigada pelos esclarecimentos, Isabela”. É (Isabela), eu acho que é o momento, não é doutor, de realmente procurar ajuda, porque você vê que aqui está interferindo até na questão do casal. Questão sexual, emotiva, não é?
Fernando: Vai interferir, e ele pode, de repente, ter um distúrbio hormonal, ter a testosterona baixa e estar também isso afetando o relacionamento deles, precisa procurar um médico.
Taty: Quer dizer que podem ser outras coisas também.
Fernando: Tem que ser pedidos exames hormonais, assim como precisa pedir exames de imagem, porque se é só um lado, pode até ser câncer. Não é, é muito raro, a frequência é igual na população normal. Mas a gente não pode descartar um câncer de mama.
Taty: Qual que é essa frequência do câncer de mama no homem, em geral.
Fernando: É muito baixa, ele está relacionado mesmo à aquela parte genética. Quem tem história de câncer familiar de homem, que já teve ou mulheres novas que tiveram câncer, eles tem mais chance, e tem até teste genético para isso, que eu acho que vale a pena de pensar.
Taty: Isso, que a gente até falou. Nesse caso da ginecomastia, então pode ser um câncer, mas geralmente a probabilidade é baixa.
Fernando: É bem baixa. É menos de 0,1…
Taty: Mas existe a possibilidade de ser…
Fernando: Existe e tem que ser descartada. E outras causas de ginecomastia são câncer de testículo, o primeiro sintoma pode ser ginecomastia. Câncer de pulmão, tem alguns cânceres de pulmão que podem estar envolvidos com essa parte de secreção de hormônios. Cirrose hepática também está associado, insuficiência renal… Então são muitas doenças, a ginecomastia é um sintoma.
Taty: Então uma coisa (Fernando), os homens realmente tem mais vergonha de procurar um médico. Ainda hoje, se a gente fala em câncer de próstata, ainda existe aquela coisa ”Eu não vou fazer o toque”. Mas como não vai fazer o toque?
Fernando: Precisa, precisa vir em algum médico. Não precisa ser no mastologista, porque talvez o público seja muita mulher, e ele não quer, já tem essa vergonha, procura um clinico, alguém que vá ver, e ele faça essa queixa. Talvez endocrinologista… Alguém precisa começar. Pelo menos para indicar, ou para dizer ”Fica tranquilo, que não é nada”.
Taty: Nesse caso da ginecomastia, é o cirurgião plástico quem vai fazer?
Fernando: Olha, o mastologista também faz. Esses pacientes que vem com a mama muito grande, que precisa de ajuste de pele, ou que estão associados à gordura e tem que fazer lipoaspiração, eu recomendo um cirurgião plástico. Mas, no caso de tirar só a glândula, o mastologista já faz isso, é uma cirurgia que eles estão habituados à fazer.
Taty: Quanto tempo, mais ou menos, dura a cirurgia, ou depende?
Fernando: Depende do tamanho da cirurgia. Pode ser uma cirurgia de meia hora, se for tirar só uma glandulazinha, ou pode demorar umas 2 horas e meia, isso se estiver associado à lipoaspiração, se estiver associado a ressecção de pele, ou quando são os dois lados…
Taty: A questão de saúde pública, como é que ela vê a ginecomastia, como é que está isso doutor?
Fernando: Olha, a saúde pública tem procedimentos do (SUS), tem 2 códigos, um é tratamento cirúrgico de ginecomastia que está associado a pacientes com lipodistrofia, pacientes que tem (HIV)… Porque anti-retro viral também causa ginecomastia. Então tem esse código, e também tem um código de plástica mamária masculina não estética, e que é onde se enquadra e se faz. Só que o nosso sistema de saúde está tão…
Taty: Maravilhoso…
Fernando: Tem tantos pacientes… Que se chega uma paciente com câncer de mama, e precisa fazer uma reconstrução de mama, ela tem que ser prioridade, ela precisa tirar o câncer dela e reconstruir. Mas também não quer dizer que o outro paciente não tenha direito. É um procedimento não complexo, então tem hospitais menores que tem. Só que, quais hospitais vão ter cirurgia plástica? Então diminui mais. Eu já vi até cirurgião geral que faz isso, mas o ideal seria que fosse a cirurgia plástica.
Taty: É, tem algumas pessoas aqui, alguns homens com uma mesma questão, que é, na verdade, se é uma cirurgia cara. Ou se seria o preço de uma cirurgia de mama da mulher, de silicone…
Fernando: Semelhante à uma cirurgia de mulher. Os hospitais tem vários valores, eles vão oscilar muito. Mas, por ser um procedimento que o (SUS) cobre, está no (hall da NS) [00:11:58], é um procedimento que os convênios cobrem, então se o convenio tiver realmente em exame, em ultrassom, falando ”É ginecomastia”, então é possível que o convênio acabe cobrindo essa cirurgia. Só que talvez ele não vá cobrir uma lipoaspiração, porque muitos pacientes desses, vem com a glândula e vem com muito tecido adiposo. E para ficar bonito, precisa de uma lipoaspiração.
Taty: E aí é só com um cirurgião plástico mesmo, que vocês tem esse…
Fernando: Exatamente. Mas tirar a glândula, isso realmente o convênio deveria cobrir. O convênio e o (SUS).
Taty: Tá. Olha, o (Carlos) diz o seguinte, ”Boa tarde, tenho vergonha dessa condição que me afeta, principalmente no quesito de relações íntimas…”, de novo, olha aqui, ”… com as mulheres. Acabo evitando, para não me expor. Sinto que a ansiedade aumenta quando conheço uma mulher”. Aqui é uma outra questão ligada à afetividade, à sexualidade, realmente deve ser muito complicado
Fernando: Com certeza, a autoestima, tem trabalhos que mostram que melhor a autoestima.
Taty: Ah, isso com certeza.
Fernando: Tem trabalhos que mostram que melhora a autoestima, melhora de imagem corporal, então faz diferença. Acho que vale à pena procurar, melhora, só que também não é uma cirurgia isenta de riscos. Tem um corte, que normalmente em volta da auréola, tem gente que tem distúrbios de cicatrização, pode ter alguma depressão, alguma coisa. Então, não é um milagre.
Taty: Anestesia geral, geralmente?
Fernando: Dá para fazer até com anestesia local. Mas dependendo do tamanho, é preferível fazer com anestesia geral, para o conforto do paciente, e do médico também, porque fazer com anestesia local, o paciente pode querer mexer e tudo, mesmo fazendo uma sedação pode ser ruim.
Taty: É, o que eu percebo aqui é realmente a vergonha que esses homens tem de, primeiro colocar o problema para o médio.
Fernando: Tem. E eu acho que tem muito mais gente que tem, e não vai atrás. Tem gente que tem só pelo excesso de peso, já tem alguma evidência, e isso eu já acho que incomoda. E eu acho que se incomoda, tem que procurar alguma solução para isso.
Taty: Claro, porque aí mexe com questões emocionais, como o doutor disse a autoestima, e até acho que uma possível depressão.
Fernando: Tem, e tem paciente que tem depressão por isso.
Taty: A pessoa deve mudar a vida toda, eu fico imaginando.
Fernando: Muda.
Taty: Você viu aquele rapaz…
Fernando: Que não tira a camisa na praia.
Taty: Não tira a camisa na praia.
Fernando: O gostoso é você tirar a camisa.
Taty: Exatamente, em um relacionamento com uma mulher ele vai sentir vergonha..
Fernando: Evitar um relacionamento.
Taty: Sentir vergonha do próprio corpo, não é doutor (Fernando), eu acho que isso, em geral, é algo muito ruim.
Fernando: Com certeza.
Taty: Por isso que eu acho a cirurgia bacana, no sentido de você voltar realmente a se sentir bem. Seja o que for.
Fernando: Com certeza.
Taty: Eu sou contra o excesso, essa é uma opinião minha, eu não gosto desse exagero…
Fernando: Não, mas tem paciente que opera uma coisa, dá 6 meses, depois volta, quer operar outra, e depois outra… Não é isso.
Taty: Não é isso, exato, o que realmente é necessário.
Fernando: É uma cirurgia, que muda, qualidade de vida. O objetivo é a qualidade de vida mesmo, acho que faz diferença.
Taty: Bacana. Vamos falar então, bom, homens então, procurem.
Fernando: Com certeza, podem procurar.
Taty: Eu até perguntei para o doutor antes de começar, ”Mas você já fez várias operações?”. Porque a gente acaba imaginando que são 2 homens que te procuraram, sabe? É um assunto tão…
Fernando: É um assunto importante, é um assunto que eu acho que … Como a cirurgia de mama é uma das mais realizadas em mulher, a cirurgia de mama é uma das mais realizadas em homem. Se for somar, é claro que homem procura bem menos, acho que é 1 para 10 se comparado com mulher, mas a cirurgia mais frequente, pelo menos acho que a ginecomastia está entre esse público jovem, como uma das principais.
Taty: Ok. E no público jovem não tem o problema de operar, vamos supor, de fazer uma cirurgia em um rapaz de 12 anos, por exemplo.
Fernando: Em crianças, elas vão crescer e mudar o formato, então você tem que procurar o melhor momento. Tem crianças que tem uma mama muito grande, então precisa operar. Mesmo que ela vá ficar com uma cicatriz, ou vá mudar o corpo, eu acho que vale à pena. O que eu tenho visto também, são muitas crianças obesas, então essas eu procuro tentar fazer com que elas emagreçam, melhorem, mas já falo ”A gente vai operar, mas vamos esperar mais 1 ano”.
Taty: Mas assim doutor, fora a cirurgia, existe algum tratamento que possa…
Fernando: Se for uma fase inicial, tem o uso de medicações. Mas pelo menos eu, acabo vendo os que já passaram dessa fase, já tem 2 anos de história e mama grande. Mas eu sei que não começou grande, ela começou pequenininha e tudo, e vai aumentando.
Taty: E pode realmente ficar de um tamanho grande mesmo?
Fernando: E você vê mama maior do que de muitas mulheres aí.
Taty: Que coisa, gente.
Fernando: Então tem isso, e sensibiliza realmente para operar. Só os obesos, que eu acho que tem esse fato da obesidade, que a gente tenta pelo menos emagrecer um pouco e o resultado cirúrgico é melhor.
Taty: Bacana. Gente, a gente vai entrar em um intervalinho, e no próximo bloco, vamos falar da mulher. Então até daqui à pouquinho.
Taty: Olá gente, voltando com o (Freud Explica), eu estou aqui com o doutor (Fernando), cirurgião plástico. Agora vamos entrar na questão das mamas, a reconstrução de mama nas mulheres após o câncer, que é muito importante também. Doutor (Fernando), sempre é possível essa reconstrução da mama após a retirada?
Fernando: Eu acho que o mais importante no câncer de mama, é que tem que ter um maestro. Acho que o maestro, nesse caso, é o mastologista, ou o cirurgião oncológico, que vai tratar o câncer. Então eu acho que a doutora (Priscila) falou sobre quimioterapia, radioterapia. Então, depende do que ela fala do câncer. Então fez uma biópsia, já sabe o que é, que tipo de câncer, já tem uma ideia do tratamento. Então, teoricamente daria para reconstruir todas as pacientes, e sim, tem várias opções de reconstruir e, conversando com quem vai tirar o tumor, a gente vê qual é a melhor forma de reconstruir. Só que tem pacientes que não tem condições, talvez, de fazer uma reconstrução porque já está muito debilitada, fez a quimio, tem problemas no coração, então aumenta muito o tempo cirúrgico. Então a gente precisa otimizar, ver o que é melhor para a paciente e como que a gente vai fazer aqueça cirurgia ser o mais rápido o possível, e ser o melhor para a paciente.
Taty: Tá, você tem como explicar um pouquinho como é que pode ser feita essa cirurgia, se é silicone, se é a gordura… Como é que é?
Fernando: Exatamente. Então, não é uma cirurgia de colocar prótese de silicone.
Taty: Não é essa, porque as pessoas acham que é…
Fernando: As pessoas falam ”Ah doutor, eu quero tirar e vou colocar uma prótese de silicone”. Não, não é. É uma cirurgia que tira uma glândula inteira, e se coloca uma prótese. Aliás, o termo prótese é quando você substitui uma estrutura. Então para fazer prótese de mama, não é ”prótese de mama”, é implante de mama.
Taty: Ok, a gente fala prótese.
Fernando: Prótese, já um termo errado. Mas no caso de cirurgia de reconstrução de mama sim, você está tentando substituir, então talvez uma prótese seria mais adequado. E como tirou a glândula, fica gordura e pele, é quase nada de tecido, então precisa colocar atrás do músculo. Então já começa a cirurgia pensando ”A gente vai ter que colocar atrás do músculo”. Porque coloca atrás do músculo? Porque tem pouco tecido e a gente precisa proteger essa prótese de silicone para que não fique tão superficial e tenham menos complicações.
Taty: É, e tem que ver, porque eu estou imaginando, é uma mama e você tem que ver a simetria da outra… Então tem tudo isso que vocês…
Fernando: Isso, tem. E não é só colocar, depende do que o mastologista falar. O mastologista diz ”Eu vou tirar só a glândula, e vou deixar a aureola”, então a gente pode falar assim ”Opa. Eu vou poder aproveitar e colocar só a prótese”. Aí ela fala ”Olha, o tumor está grande, eu vou ter que tirar um pouco de pele e a aureola já foi”, então eu vou falar ” A gente vai colocar um expansor de pele”, tem um expansor que você coloca atrás do músculo, vai expandindo. Então apesar de não ter pele no momento da cirurgia, você vai expandindo depois no pós operatório, no ambulatório, vai expandindo um pouquinho com soro fisiológico, e depois você faz uma cirurgia para trocar aquele expansor por uma prótese. Tem uma outra cirurgia que se pega tecido das costas, com o músculo grande dorsal, e faz isso no mesmo tempo, e cobre a prótese, protegendo ela e leva um pouquinho de pele, então talvez não precisaria. Tudo isso tem que ser, de paciente para paciente.
Taty: Eu estou pensando, quer dizer, depende para você também, do que o…
Fernando: Paciente quer.
Taty: … e o que mastologista vai te falar, o quanto ele vai tirar de o quanto ele vai tirar, de como…
Fernando: De vez em quando ele fala assim ”Eu vou tirar uma bolinha, não vou precisar tirar toda a glândula, e vou tirar aqui embaixo”. Poxa, se ela vai tirar só um pouquinho, eu não preciso nem colocar prótese. Eu posso fazer uma cirurgia como se fosse redução da mama, quando tem mamas muito grandes, e eu faço como se fosse reduzir a mama, e a técnica é a mesma. Aí talvez ela faça radioterapia e tudo, e seja melhor. Aliás, a radioterapia é um dos fatores que a gente fala ”Ah, vai fazer radioterapia, será que vale a pena colocar a prótese agora, ou não?”. Porque a radioterapia sofre um pouquinho mais a pele, e aumenta complicações na cirurgia. Então tudo isso tem que ser conversado com o mastologista, ” o que você vai tirar?”‘. Então eu acho que é interessante trabalharem juntos. É ruim um mastologista tirar o câncer, e chamar o plástico que nunca conheceu, que não sabe…
Taty: Que não conheceu, e você vai chegar lá e vai ter que fazer milagres.
Fernando: E falar assim ”Olha, esse problema é seu”. Não, é equipe. Como eu também vejo que tem mastologistas que fazem parte de reconstrução de mama. Eu não acho que os princípios oncológicos sejam legais quando a pessoa tira o câncer e ela reconstrói. Por que na hora, ela fala assim ”Poxa, mas eu vou reconstruir, então eu vou tirar um pouquinho menos aqui”, tem isso. Eu acho que essa parte de um tira e o outro reconstrói, é a melhor equipe, porque eu acho que se for, tem que ser isso de trabalhar junto.
Taty: Essa equipe você trabalha com um masto e um oncologista algumas vezes também?
Fernando: Na verdade, eu trabalho diretamente com o mastologista, então o mastologista indica e a gente reconstrói. Essa parte do acompanhamento e pós, eu deixo para o mastologista ver se vai precisar de radioterapia, ele encaminha. Então essa parte eu deixo com ele.
Taty: O que você falou, eu acho muito importante, esse trabalho em equipe, e realmente você estar sabendo.
Fernando: Trabalho em equipe. Não, nenhum médico pode assumir todas as doenças. Só falta eu, como cirurgião plástico, começar ”Não, você tem pressão alta, toma esse remedinho aqui”, ”ah, você tem diabetes? Toma esse remedinho”. Não, tem as especialidades para dividir as responsabilidades e para o paciente ser melhor abordado.
Taty: E falando também da questão de autoestima, que a gente falou para os homens no primeiro bloco, também para mulher, eu fico imaginando.
Fernando: Sim, é importante e é lei que a mulher tenha o direito de reconstruir ao mesmo tempo. É claro que não é uma coisa…tem que ser conversado, porque pode ter uma paciente que tenha um problema cardíaco, fumante, com diabetes, com pressão alta. Já tem cirurgias prévias que viabilizam. Falar assim ”Olha, vamos esperar? Tira, passa por tudo, e depois a gente reconstrói.
Taty: Não precisa ser exatamente no momento, não é?
Fernando: Não precisa.
Taty: Vamos ver aqui, já está chegando bastante, só um minutinho. Aqui da (Luiza), ”Olá, muito bom o programa”, obrigada (Luiza), ”por favor, doutor. Quais as chances de ocorrer uma metástase em uma operação de prótese de silicone, onde a mulher não saiba do câncer?”. Quer dizer, ela vai fazer um implante, vai colocar o silicone e ela não sabe que tem. Isso pode?
Fernando: Não, pode ficar mais tranquila. O implante mamário pode ser de silicone, de poliuretano, nos (Estados Unidos) até recentemente era salino, era liquido que se colocava esses implantes, hoje já são os 3. Tem alguns relatos com poliuretano de poder causar câncer ou outros problemas, mas na verdade, eu não vejo dessa forma, eu acho que não tem muito, é muito pouca a porcentagem.
Taty: Não tem muito a ver.
Fernando: Eu acho assim, quem coloca prótese, está colocando um material que não é dele e não é isento de complicações, pacientes jovens que colocaram com 20 anos vão precisar trocar, pois forma uma cápsula em volta da prótese, que pode ficar endurecida e até dolorosa.
Taty: Não é aquela coisa, ”Comprei, é meu”, pronto, ok, é seu, mas vai ter uma…
Fernando: Mas você acha que as trocas são por causa disso? Não elas trocam porque amamentaram, e a mama caiu, e que iria cair com o tempo, e acabam trocando. Ou colocou e quer mais, isso acontece, ou colocou e depois de um tempo a aureola ficou um pouco mais para baixo e quer reposicionar, então tem diversas causas.
Taty: Nada é mágico.
Fernando: Nada é mágico. Mas pelo menos, é minha rotina pedir exames de imagem, para mesmo pacientes jovens, peço uma mamografia, ou se as mamas são muito densas, pedir um ultrassom, para ver se não tem nada, nenhum nódulo ou alguma coisa. Se tem alguma coisa, eu encaminho para o mastologista, para ele falar ”Olha, esse daqui vamos fazer uma biópsia, uma pulsão.”, ou ” Esse deixa, não é nada, esquece”.
Taty: Uma questão muito frequente, que é, se eu tenho um implante de silicone, é mais difícil através de uma mamografia eu detectar um possível nódulo, um câncer?
Fernando: É que, se coloca atrás do músculo, é mais tranquilo de fazer a mamografia. Se coloca na frente do músculo, tem que fazer uma posição a mais para tentar ver essa glândula em todas as posições, porque se não, o implante pode ficar bem em cima de um tecido e não conseguir ver. Mas não, na verdade, a tecnologia de mamografia está muito mais avançada, os radiologistas, a dificuldade que se tem é mínima. E se existe alguma dificuldade, você pode complementar com algum outro exame como ultrassom, ou até mesmo uma ressonância.
Taty: Tá ok. (Elaine Luz), oi (Elaine). ”Boa tarde Taty, minha filha fez uma redução de mama aos 15 anos, pois usava sutiã número 50. Além do desconforto físico, havia muito incômodo emocional por conta de roupas, sutiã e biquíni. Hoje ela tem 21 e sua mama voltou à crescer, apesar de não ter voltado ao mesmo tamanho anterior. Minha pergunta é, qual é a idade ideal para fazer uma segunda cirurgia? Após a segunda, ela corre o risco das mamas crescerem novamente? Um grande abraço”, essa é a (Elaine Luz), que sempre participa aqui com a gente. Então a filha fez a cirurgia de redução e volta a crescer a mama. Isso pode continuar pro resto da…
Fernando: (Elaine), eu acho que assim, ela já tinha uma mama muito grande, sutiã 50 para uma menina de 15 anos, ela devia também ficar curvada, já ter dor nas costas… Acho que precisa operar realmente, segurar o máximo o possível para operar, porque vai mudar e vai ter novos hormônios, mas tem uma hora que 50, e ela não está conseguindo conviver, eu acho que tem que operar. Agora, se ela já está aumentando, e ela ainda é nova, ela tem que ver se ela vai ter filhos, qual que é a programação, se não tem programação. Porque já na primeira cirurgia, pode ter dificuldades de amamentação, então outra cirurgia aumenta. Tem que ver o quanto que aumentou isso e o quanto que está atrapalhando ela.
Taty: Tá. Mas então assim, em uma diminuição da mama, a minha mama pode voltar a crescer, isso não é garantia.
Fernando: Isso é bem individual. Pode, porque tem meninas que não tem nem o fator obesidade, que também aumenta a mama. Aí, são magrinhas com a mama grande, e ficam com vergonha. Apesar de ser o sonho de algumas terem mamas grandes, tem outras que sofrem, e realmente eu acho que tem, e dá para re-operar. Realmente, ela tem que procurar o melhor momento dela, vendo quando vai ter filhos, como está a situação, fazer um planejamento.
Taty: O planejamento dela de vida. Aí aqui, a (Denise) diz o seguinte, ”Bom dia, minha filha tem o problema contrário. Aos 14 anos ainda não apresenta um busto de mulher. Pode ser hormonal? Isso afeta muito o seu relacionamento com os rapazes, que a chamam de mulher macho”, aí o bullying, não é? ”Levei ao ginecologista e ele disse que nada está errado. Até que idade tenho que esperar para, caso não crescer o peito, fazer uma plástica e colocar silicone?”.
Fernando: 14 anos, eu não falaria ”Coloque um silicone”, realmente é muito nova. Até mesmo para ela se aceitar, o corpo dela está mudando. Pode ser que seja com 16 anos. É importante talvez, procurar um endocrinologista, endocrinologista pediatra, alguém que está mais envolvido nessa parte de desenvolvimento, para ver se ela não tem um distúrbio, alguma coisa. Tem que ver se ela já menstruou, entendeu? Tem outras coisas que a gente precisa… O ginecologista já deve ter abordado isso, mas ver se toda a parte hormonal dela já iniciou, porque pode ser uma puberdade tardia, ou pode ser que ela tenha algum outro problema que possa ser abordado. Em relação à prótese de mama, eu acho que ela deve esperar.
Taty: Geralmente qual é a idade indicada, em geral? É 18 anos?
Fernando: 18, mas é por uma questão legal, maturidade. A mulher, eu acho que elas ficam maduras bem mais cedo, com 16 anos já são maduras. Mas eu acho que essa parte legal também é melhor. Então dificilmente algum cirurgião vai colocar prótese em uma paciente de menos de 18, espera os 18 anos, até mesmo o pai, a mãe e tudo…
Taty: Eu vejo algumas meninas de 18 anos, seios lindos colocando silicone, e você fala ”Meu Deus, para que?”
Fernando: Exatamente. Eu tinha vontade de fazer tatuagem, aí meus pais falaram ”Quando você tiver 10 anos, você decide”. Nunca fiz, entendeu? Acho que você muda. E essa fase ”todas as minhas amigas tem mama, não tem mama, então eu quero ficar igual”, espera, relaxa.
Taty: Tem a moda, não é (Fernando)? Aquela moda dos seios grandes? Agora voltou a moda dos seios menores, não é?
Fernando: Isso, estimula a sexualidade, imagine com 14 anos colocar a prótese de mama, os amigos…
Taty: Exatamente. Aqui, vamos ver, (Thiago Dantas), ”Boa tarde Taty e doutor Fernando, qual a probabilidade…”, aqui ele volta à questão do homem, ”…de um câncer de mama no homem?”. (Thiago), o doutor falou que é muito raro.
Fernando: Muito raro, a chance é muito pequena, mas se tiver alguma nodulação ou alguma suspeita, tem que procurar algum médico para avaliar e solicitar algum exame.
Taty: Procura o doutor (Fernando) já para… Aqui a (Cibele) ”Queria muito saber do doutor (Fernando), se a prótese de silicone pode atrapalhar no diagnóstico do câncer de mama. Uma mulher que quer colocar o silicone, deve investigar probabilidades de câncer antes da operação?”.
Fernando: Eu faço um exame de imagem, mas tem gente que nem faz, e não estaria errado em pacientes que não tem (risco) [00:35:09].
Taty: Então não é o procedimento.
Fernando: Eu faço porque, de repente um paciente (3 anos) [00:35:16] vai fazer um exame e fala ”doutor, tem um nódulo aqui e o senhor não viu, e colocou prótese de mama”. Então eu não quero que falem que eu sou negligente, então eu peço.
Taty: Tá, mas não é um procedimento…
Fernando: Não, é tranquilo. A chance de ter é baixa, não tem que se preocupar com isso.
Taty: Que bom que a gente pode trabalhar tanto a questão do homem, quanto da mulher, nessa questão da estética para autoestima, acho isso muito importante, não é? Eu tenho alguns pacientes no consultório que tem questões corporais, de dismorfia, então realmente você percebe como isso modifica a percepção da pessoa com tudo, com ela mesmo, com o mundo, com o outro… Como é que ela vai se relacionar com o outro. Aqui a gente está falando de coisas reais, que realmente vão afetar o seu dia-a-dia. Então doutor (Fernando), muito obrigada pela presença, adorei.
Fernando: Imagina, foi um prazer.
Taty: Adorei, volte sempre, você e a família (Amato), fazer um dia de todo mundo aqui.
Fernando: Podemos, uma mesa redonda.
Taty: Gente, a semana que vem eu vou trazer um psiquiatra, a gente vai falar de depressão na terceira idade, está jóia? O doutor (Luis Justus), que já esteve em alguns outros programas aqui, então um beijo muito grande, eu vejo vocês na quarta feira, até lá.