O Dr Marcelo Amato participou da reportagem sobre a vida após aneurisma. Veja abaixo.
•O que é aneurisma? Como ele ocorre?
Os aneurismas cerebrais são lesões caracterizadas por dilatações ou lobulações das paredes das artérias intracranianas. A maneira mais fácil de entender é imaginar uma bolha na parede de um cano e que, dependendo da fragilidade de sua parede e da pressão exercida, esta bolha pode estourar e causar um vazamento de sangue no cérebro ou ao redor dele.
•Quais tipos diferentes de aneurisma existentes e quais as principais diferenças entre eles?
Dentre os tipos de aneurismas, 98% são os saculares, que são formados pela existência de defeito congênito na parede dos vasos associado aos fatores que levam ao estresse hemodinâmico nessas artérias, especialmente a pressão alta. Os outros 2% são aneurismas fusiformes, geralmente decorrentes da deposição acentuada de gordura e cálcio na parede desses vasos ou aneurismas micóticos, que estão relacionados a quadros infecciosos.
•Quais são os principais sintomas do problema?
A hemorragia subaracnóidea, ou HSA, é a principal forma de apresentação clínica. É uma das formas de Acidente Vascular Encefálico (AVE ou AVC) hemorrágico. Além desta apresentação mais comum, os aneurismas intracranianos podem se manifestar por compressão de nervos cranianos, que ocorre por aumento do volume do aneurisma em regiões específicas do cérebro.
•O paciente que sofre com um ou mais aneurismas pode ficar com algum tipo de sequela? Qual?
O paciente pode ter 5 aneurismas e não ter sintomas. O risco de sequela existe se um desses aneurismas se tornar sintomático. Ou seja, o aneurisma precisa romper ou comprimir alguma estrutura cerebral para que haja algum déficit neurológico e consequentemente o risco de sequela. As possíveis sequelas são as mais variadas possíveis, já que praticamente qualquer estrutura cerebral pode ser atingida. Mais frequentemente, notam-se déficits motores, déficits na fala e déficits cognitivos.
•Quantos tipos de tratamento existem para a doença? Existe algum meio sem ser o operatório?
O tratamento consiste em excluir o aneurisma da circulação sanguínea, evitando-se desta forma a ruptura e sangramento, que quando ocorre, pode ser fatal em 1/3 dos casos e deixar seqüelas clínicas limitantes em até metade dos pacientes que sobrevivem.
Tradicionalmente, o tratamento do aneurisma cerebral se faz através da colocação cirúrgica de um clipe metálico entre o vaso normal e o aneurisma, excluindo-se desta forma a passagem de sangue para o interior do saco aneurismático. Este procedimento é realizado através de craniotomia, ou seja, uma pequena abertura no crânio. O cérebro não é cortado, apenas dissecado e afastado para que a artéria com aneurisma, que geralmente se situa embaixo do cérebro seja encontrada e tratada. O procedimento é realizado com anestesia geral, dura cerca de 4 horas e, atualmente, é considerado bastante seguro e eficaz.
Em 1991, com a introdução por Gulglielmi das espirais metálicas com destacamento controlado, disponibilizou-se uma nova alternativa ao tratamento dos aneurismas cerebrais, até então tratados preferencialmente por via cirúrgica. A utilização destas espirais metálicas (molas delicadas de platina) permitiu a realização do tratamento do aneurisma cerebral pela técnica de embolização endovascular. Neste procedimento, é realizada uma pequena punção na artéria femoral (virilha), por onde se conduz um micro cateter até o interior do saco aneurismático. O procedimento, realizado em um angiógrafo, utiliza visualização em tempo real sob Raios-X para identificação das estruturas vasculares quando preenchidas por contraste iodado. Com o micro cateter no interior do aneurisma, sucessivas espirais metálicas são introduzidas no interior do saco aneurismático até a sua exclusão circulatória.
A embolização endovascular dos aneurismas cerebrais permitiu uma abordagem terapêutica eficaz e segura, associada a menores taxas de morbidade e de mortalidade. Entretanto, a melhor escolha terapêutica entre as modalidades, cirúrgica ou endovascular, deverá ser analisada de forma multidisciplinar levando-se em conta o melhor tipo de abordagem para cada tipo de aneurisma e de paciente. A embolização também é considerada um procedimento cirúrgico.
Alguns casos podem ser conduzidos sem cirurgia, são aqueles aneurismas que nunca se romperam e que apresentam risco muito baixo de sangramento devido seu tamanho e localização .
•Como é realizado o tratamento para o problema? Alguma medicação terá de ser tomada por toda a vida?
Não existe medicação que possa ser usada para tratar o aneurisma. Caso o procedimento realizado seja endovascular, existe a possibilidade de utilizar um stent, semelhante ao que é utilizado nos cateterismos cardíacos, nesses casos pode ser necessário utilizar uma medicação por tempo indeterminado para manter o stent funcionando. Se algum fator de risco para o desenvolvimento do aneurisma for identificado, este deverá ser tratado também, geralmente, com o auxílio de medicações.
•Existem fatores de risco para o desenvolvimento da doença? (Como maus hábitos alimentares, tabagismo, alcoolismo, fator hereditário, entre outros)
O tabagismo e a hipertensão arterial são fatores de risco muito importantes para o desenvolvimento de aneurismas cerebrais. Familiares de primeiro grau de pacientes que tiveram ou tem aneurisma cerebral também têm um risco maior e devem passar em consulta com o especialista. Na avaliação populacional, mulheres e negros têm uma prevalência maior deste tipo de doença. É muito raro na infância e adolescência e mais comum após os 40-50 anos de idade.
•Como identificar se a pessoa está sofrendo um aneurisma? Quais são os primeiros socorros para essa vítima?
Na maioria das vezes, os aneurismas não dão sintomas até que ocorra ruptura e sangramento, quando geralmente se manifestam pela hemorragia subaracnóide (HSA), que é uma situação clínica grave e uma urgência médica. Os pacientes costumam apresentar dor de cabeça muito forte e súbita após um esforço físico demasiado ou estresse emocional, a dor é seguida de perda de consciência na maioria das vezes. Os primeiros socorros são os básicos para o suporte de vida, destacando o encaminhamento urgente a um hospital capacitado.
•Se uma pessoa sofre com constantes dores de cabeça, um dos principais sintomas do problema, quando ela deverá desconfiar desse desconforto e procurar ajuda médica?
Constantes dores de cabeça não são características desta doença. Essa é uma preocupação frequente e errônea da população. Diferente daquela dor que começa mais fraca e vai aumentando lentamente, a dor do aneurisma é súbita e certamente a dor de cabeça mais forte que a pessoa já teve, na maioria das vezes vem acompanhada de perda de consciência e/ou vômitos. A rigidez de nuca é outro sinal muito frequente da hemorragia subaracnóidea, algumas vezes difícil do paciente notar, mas facilmente identificada pelo médico. Existem sim casos que começam com dores mais leves e o paciente pode acabar se prejudicando de uma demora no atendimento neurológico, mas esses não são a regra. Por isso o paciente sempre deve procurar ajuda médica se estiver preocupado, mas em casos de aneurisma cerebral é muito mais frequente que ele seja levado ao hospital em uma situação de urgência.
•A dor de cabeça pode ser o indício de outras doenças graves? Quais?
Existem inúmeros tipos de dor de cabeça, na maioria das vezes são dores primárias, ou seja que não têm uma causa subjacente. Os sinais de alerta para uma doença mais grave são: dor de cabeça nova, mais forte ou diferente do usual; dor que acorda a pessoa no meio da madrugada; vômitos associados a dor de cabeça em paciente que não saiba sofrer de enxaqueca; febre; algum sinal ou sintoma neurológico associado como perda de força, perda de sensibilidade, dificuldade para falar, perda de coordenação ou equilíbrio. Com esses sinais de alerta o médico deverá investigar as cefaléias secundárias, ou seja, que tem uma causa definida e podem ser inúmeras dependendo das características do paciente e da história clínica. Entre essas causas estão os tumores, infecções como meningite ou abscessos, hidrocefalia, hematomas espontâneos, trombose venosa, vasculite, entre outras.
•Existe alguma diferença entre a dor de cabeça sintomática do aneurisma e uma dor de cabeça sintomática de outras doenças?
Como previamente mencionado: “Diferente daquela dor que começa mais fraca e vai aumentando lentamente, a dor do aneurisma é súbita e certamente a dor de cabeça mais forte que a pessoa já teve, na maioria das vezes vem acompanhada de perda de consciência.”